Esta pesquisa apresenta uma cartografia dos corpos eletrônicos drag na plataforma do YouTube, tendo como enfoque a (des)montação dos tutoriais. O problema de pesquisa é - como operam as performatizações existenciais expressas através dos corpos eletrônicos drag na plataforma do YouTube em sua forma tutorial? Que performatividades de gênero as técnicas de montação postas em prática nos tutoriais tendem a atualizar e que rupturas de sentido tendem a provocar? Com isso, o objetivo é observar os processos de atualização das performatividades de gênero instituídas nas performances drag, bem como as rupturas de sentido que anunciam desarticulações dos programas estabelecidos. Para tal, realiza-se uma revisão teórica da noção de performance, tendo como entrada as reflexões de Diana Taylor (2012) e Marvin Carlson (2009), com destaque para a arte da performance. Outra angulação da performance considerada é na relação com o conceito de Performatividade de gênero conforme proposto por Judith Butler (2002; 2015), sublinhando-se as diferenças entre os termos. Visando agregar um viés micropolítico de observação leva-se em conta a performance na sua articulação com a noção de Performatização existencial tratada por Suely Rolnik (2016; 2018), a qual é articulada aqui com pensamentos de autoras/es como David Lapoujade (2017), Maurizio Lazzarato (2014), Domenico Hur (2018) e Júlia Almeida (2003). Entre as diferenças observadas no uso da performance restringido ao âmbito macropolítico e aquele que inclui conjuntamente o âmbito micropolítico é o modo de compreensão das noções de Limite e de Fora. É em relação a esses pontos que a partir de Paul-Beatriz Preciado (2014; 2018) trata-se das micropolíticas de gênero, em específico quanto às oficinas drag king e às tecnologias de produção do corpo. Ademais, com base nas reflexões de Lucia Santaella (2004), Nísia Martins do Rosário (2009) e Sonia Montaño (2015) depreende-se alguns atravessamentos do corpo eletrônico drag na plataforma do YouTube, como, as linguagens do corpo, as linguagens audiovisuais, as montagens processuais, os algoritmos e os rastros deixados no decorrer da navegação. Para construir o percurso da investigação parte-se das pistas da cartografia como método, com destaque para a noção de desmontagem (PASSOS; BARROS, 2015a; idem, 2015b) que associada às práticas de montação drag e aos elementos da análise audiovisual permite constituir um Dispositivo de (des)montação como procedimento de produção e reconhecimento atento dos dados empíricos. De modo geral, foram rastreados 252 audiovisuais, dos quais 34 são reconhecidos atentamente através do Dispositivo de (des)montação. Por meio desta pesquisa percebe-se que os aspectos mais recorrentes entre os tutoriais de montação drag são os agenciamentos de maquiagem drag queen, os quais junto aos agenciamentos de maquiagem drag king, dão a ver as territorialidades de gênero e os programas que as constituem performativamente. Também são abordadas as maquiagens experimentais, as quais parecem evidenciar rupturas de sentido em relação aos limites instituídos. Por fim, ressalta-se que os agenciamentos em si não implicam posturas de incorporação pautadas pela redundância ou pela desmontagem, isso varia segundo as estratégias micropolíticas do desejo envolvidas nas diferentes montações - dentre as quais são diferenciadas as performatizações de uma drag perfeita e natural, e, de uma drag transformista que improvisa na cena (ambas coexistem, com maior predomínio de uma sobre a outra em cada caso).
Duração | 04:10:09 |
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Idioma | |
Ano de produção | 2020 |